quarta-feira, 4 de junho de 2014

Travessia da Serra do Papagaio - Dia 2, por Fabio Fliess



Letícia e Gustavo curtindo o nascer do sol.
Foto: Fabio Fliess

 A noite foi bem fria (segundo o termômetro que o Garcia levou, a mínima foi de 5 graus, mas a sensação térmica devia bater no negativo), mas acordamos bem cedo para ver o sol nascer. Ficamos cerca de meia hora curtindo o espetáculo, tirando fotos e conversando.
Por volta das 6h, já começamos a preparar o café da manhã, arrumar os equipamentos e preparar as mochilas.  Existia uma preocupação no ar, pois sabíamos que o segundo dia seria o mais puxado de toda a travessia, e no dia anterior não havíamos conseguido chegar ao ponto desejado para acampar. Ou seja, o mais difícil ainda poderia ficar pior.  Por conta disso, nem consideramos uma possível subida ao cume do Morro da Bandeira e às 8h retomamos nossa caminhada.
Andamos cerca de 800m praticamente no plano e nos deparamos com um curral de pedras que logo identificamos como o Retiro dos Pedros.  Isso acabou nos dando um ânimo a mais, pois o “prejuízo” do dia anterior foi pequeno.  Andamos mais 200m e atravessamos um riacho onde pegamos um pouco de água (não confiamos muito na qualidade da água). Nesse dia teríamos uma fartura de pontos de água e isso não nos preocupava (pelo menos não nesse momento).
Logo a trilha entra na mata fechada e segue assim durante um bom tempo, contornando o Pico da Canjica pela esquerda. Após algumas descidas, a trilha fica plana e sai em um bonito campo aberto. Nesse ponto (e em vários outros), a navegação é mais instintiva e é preciso prestar bastante atenção na calha da trilha, que muitas vezes fica fechada pela vegetação baixa.

Detalhe do totem do Santo Daime.
Foto: Fabio Fliess

Chegamos num bonito mirante onde avistamos uma enorme cachoeira, que chegamos a pensar que fosse a Cachoeira da Juju, nosso objetivo do dia. Logo a trilha começa a descer para a esquerda, e entramos novamente na mata, com fortes descidas.  Quando saímos da floresta, entramos em um enorme campo aberto, onde está fincado um “totem” do Santo Daime, a direita da trilha. Deixamos as mochilas e fomos fotografar o tal totem. Não achei nada demais, e voltei com os outros para a trilha principal (na verdade, uma estrada) onde fizemos um lanche rápido.
Um pouco mais a frente, essa estrada bifurca. Seguindo a esquerda, existe um bom ponto para coletar água e existe a possibilidade de abortar a trilha seguindo até o Vale do Matutu. A continuação da travessia é pela direita, cruzando uma bonita mata. Um pouco a frente, cruzamos novamente um riacho, andamos um pouco mais e a trilha vira a direita uns 90˚. 

A trilha vai subindo e descendo morros durante um bom trecho.
Foto: Fabio Fliess

A partir desse ponto, vamos subindo e descendo vários morros, debaixo de um sol forte. O visual é que anima e compensa. Depois da descida do terceiro ou quarto morro (nem me recordo mais), encontramos um local plano e com sombra para fazermos uma refeição reforçada.  Até ali, já tínhamos caminhado cerca de 9km, metade do estimado para o dia.  Ficamos quase meia hora comendo, conversando e descansando.
Retomamos a caminhada, e pouco depois chegamos num bonito mirante (apesar da falta de água, um bonito local para acampamento). A trilha começa a descer em direção ao fundo do vale. Ali, passamos por dois pontos de água, sendo o primeiro dentro de uma pequena floresta. Após (mais) uma subida, quando chegamos ao topo avistamos um grande rio que teríamos que cruzar, que possui uma enorme cachoeira e um belo poço.
Descemos até a calha do rio e começamos a procurar um ponto para atravessá-lo. Embora os relatos mencionem que é mais fácil atravessar um pouco mais acima, optamos por fazê-lo bem perto da cachoeira.  Embora a correnteza fosse forte, o volume de água não era tão grande.  Preparamos tudo e pouco tempo depois, estávamos todos na outra margem, em segurança!

A bonita cachoeira avistada depois de cruzarmos o rio.
Foto: Fabio Fliess

A alegria de atravessar o rio em segurança logo foi ofuscada pelas fortes subidas que iríamos encarar pela frente.  Passamos próximos a um casebre (uma referência da trilha), continuando a subir o forte aclive e em pouco tempo estávamos caminhando numa bonita crista. Andando um pouco mais, a trilha chega ao final de uma estrada que desce para a esquerda e leva até a localidade de Alagoa (outro ponto para abandonar a travessia). Na direção oposta, essa estrada vira uma trilha bastante erodida em direção ao fundo do vale. Seguimos por essa trilha e já estava bem tarde quando chegamos num riacho, e na dúvida, resolvemos encher os cantis.  Não tínhamos certeza se conseguiríamos chegar a Cachoeira da Juju com luz, e já pensávamos em outras opções para pernoitar.
Após o riacho, temos mais um trecho de subida forte, que subi resignado. Chegando ao topo dessa elevação, a trilha fica mais plana e a caminhada rende um pouco mais. Cerca de 10 minutos depois chegamos num mirante onde finalmente avistamos o destino do dia.  Visualizamos os grandes poços da cachoeira e sabíamos que faltava pouco. 

Avistando as corredeiras da Cachoeira da Juju, no final do dia.
Foto: Gustavo Machado

Um pouco mais animados com a proximidade do acampamento, começamos a forte descida até a cachoeira. Inicialmente em um trecho bastante erodido, com muitas pedras soltas, até chegar numa porteira. A partir dali, a navegação foi praticamente visual, e apenas em alguns pontos conseguíamos enxergar o capim amassado indicando a trilha.  Após uma forte descida, bastante cansativa e perigosa (a Lidiane chegou a torcer levemente o pé) cruzamos um pequeno pasto e finalmente chegamos à área de acampamento, ao lado da cachoeira. Eram 18h e praticamente não tínhamos mais luz natural.
Usando as lanternas, montamos nossas barracas. Os mais corajosos ainda encararam um banho completo na cachoeira!
Por conta das aranhas e escorpiões que apareceram no nosso acampamento, a Letícia perdeu a fome e desistiu de cozinhar.  Não me incomodei com isso, pois na verdade estava sem fome.  O restante da turma preparou suas refeições. Eu apenas filei um pouco de vinho tinto “Travessia” (nome muito apropriado), levado pelo Fiorini.  
Foram praticamente 10h de caminhada pesada! Antes das 20h já estavam todos dormindo. 

A beleza da Serra da Mantiqueira nos levava sempre a frente.
Foto: Fabio Fliess

Marcelo Garcia na aproximação da Cachoeira da Juju, com o sol já se pondo.
Foto: Gustavo Machado

Por do sol, visto do último morro antes da Juju.
Foto: Fábio Fliess

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