sábado, 7 de novembro de 2009

Huayhuash - Dia 4, por Fábio Fliess



Dia 7 de agosto!!
Religiosamente às 6h30 fomos acordados para o chá madrugador.
Depois de dois dias bem difíceis, confesso que acordei mais animado com a perspectiva de ter um dia mais tranquilo, conforme comentado pelo Diogenes. Outra coisa que nos animava era a expectativa de conhecer as águas termais de Atuscancha.
Tomamos um café da manhã reforçado e bastante descontraído, pois a presença do Luis sempre nos garantia boas risadas.
Aos poucos íamos nos acostumando com o ritmo da caminhada e também como as coisas aconteciam no acampamento. Nosso “relógio biológico” começava a se ambientar com o fuso horário, e o nosso corpo, cada vez mais aclimatado, sentia cada vez menos o desconforto da altitude e as dificuldades de uma trilha tão exigente.
No horário estabelecido, já estávamos caminhando novamente. Por cerca de duas horas, subimos tranquilamente pela trilha, ladeando bonitas lagunas. A subida era bastante longa, mas suave. E, praticamente sem perceber, chegamos às 10h30 ao topo do passo de Portachuelo (4750m de altitude).
Fizemos uma rápida pausa, onde aproveitei para tirar muitas fotos. Ao fundo do vale, já podíamos avistar a laguna Viconga, que era o nosso próximo objetivo. Para alcançá-lo, teríamos uma longa descida. A trilha era bem larga e não trazia nenhuma dificuldade. Com isso, podíamos andar todos juntos, conversando animadamente!
Às 12h em ponto, bem próximos da laguna, paramos para o nosso almoço. Perto dali, haviam algumas casas bem simples, e as crianças que lá moravam vieram correndo ao nosso encontro. Primeiro nos pedem “plata”, o que negamos. Depois pedem doces e balas... Em nosso “box lunch” sempre tinham algumas balas, que agora eu desconfio que estavam ali justamente com esse propósito.

Depois de almoçar e descansar um pouco, recomeçamos a caminhada. Começamos a contornar a laguna Viconga, e descobrimos que ela era bem maior do que parecia. Um pouco distante, numa das margens da laguna, aparecia o Nevado Viconga.
Conforme voltamos a subir, começou a nevar bem fraquinho. Era a primeira vez que víamos neve na trilha. Logo chegamos ao topo do vale, onde havia mais um pedágio para pagar. Acertamos tudo com os moradores, e voltamos a descer um curto trecho. A neve começava a cair cada vez mais forte.
Nosso acampamento, ficava mais distante do que os outros. Para chegar até ele, tivemos que margear um longo canal de água. A mureta por onde seguíamos era bastante estreita e perigosa. Alguns trechos eram expostos, e o cavalo teve que passar por um desvio. Alguns acharam mais seguro seguir o cavalo!

As 13h30, debaixo de bastante neve, chegamos ao acampamento Viconga, instalado a 4400m de altitude. Rapidamente, fomos para as barracas descansar um pouco e esperar que a nevasca parasse.
Logo percebemos outra característica do lugar. O tempo mudava com extrema rapidez. O sol voltou a brilhar, e decidimos ir até as águas termais. Andamos mais ou menos uns 25 minutos até chegar nas piscinas. Os tickets que recebemos no último pedágio eram o “passe” para entrarmos sem pagar.
As fontes de Atuscancha eram formadas por duas piscinas, com a água aquecida a 50º. A menor delas, permitia o uso de sabão e shampoo. O tempo já estava bem mais frio, e depois da dificuldade de tirar a roupa, todos aproveitaram bastante a água quente. E, enquanto estávamos curtindo as piscinas, voltou a nevar, bem fraquinho. A situação era no mínimo, curiosa.
A tarde ia chegando ao fim, e precisávamos voltar ao acampamento. Encarar o frio depois da água quente, foi outra dificuldade. Secos e com roupas quentes, encaramos a trilha de volta. Para subir tudo, levamos meia hora.

Revigorado com um banho de verdade, voltei para a barraca e aproveitei para dar uma geral nos equipamentos. Nem percebi quando a noite caiu e nos chamaram para o jantar.
Depois do jantar, saindo da barraca refeitório, percebi rapidamente que teríamos uma noite muito fria. Me enfiei no saco de dormir, e ainda tive tempo de rememorar os acontecimentos dessa caminhada até então. As bolhas me incomodavam um pouco e ainda teríamos mais 3 dias de trilha antes da subida ao Diablo Mudo.
A dúvida se conseguiria ou não subir a montanha me incomodava bastante e não saía da minha cabeça. Mas vencido pelo cansaço, não demorei a dormir.

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