quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Huayhuash - Dia 8, por Fábio Fliess



Dia 11 de agosto!!

Acordei "no susto" com o Diógenes nos chamando para um rápido café. Eram 1h15 da madrugada, e o céu estava absurdamente estrelado.

Fazia muito frio! Rapidamente terminei de me arrumar. Calcei as botas, coloquei o equipos (piolet e grampons) na mochila e segui para a barraca refeitório. Ao passar pela barraca do Gilmar e da Alê, ela me chamou para dizer que não iria subir a montanha pois estava sentindo muito frio e estava preocupada. Assim, sobraram eu e o casal de espanhóis para subir a montanha.

Tomamos café em silêncio, em parte por causa da apreensão natural pelo que estava por vir e em parte por alguns arrieros estarem dormindo na mesma barraca.

Às 1h45 colocamos as mochilas nas costas e partimos rumo ao Diablo Mudo, que para mim representava o ápice dessa viagem. Andamos silenciosamente por 1 hora até chegarmos aos pés da morena, que parecia ser bastante difícil de vencer.

O terreno, muito inclinado e irregular, era coberto de pedras e areia. Isso nos fazia escorregar a todo instante. Por mais de uma vez ouvi o Alberto xingar impropérios. A ascensão, mesmo com toda a dificuldade, era bastante rápida. Mas o trecho era bastante longo. Chegamos ao topo da morena por volta das 4h30.

A partir daí precisávamos margear a crista da montanha por um trecho menos inclinado, mas ainda escorregadio. Ainda estava escuro quando chegamos no início do trecho com neve. Paramos para colocar os grampons e sacar os piolets de travessia. Começamos a subir encordados. Diógenes seguia na frente, com Maria e Alberto em seguida. Eu fechava a cordada.

A minha primeira experiência de andar com grampons foi divertida, embora cansativa. Tecnicamente, esse trecho nevado não traz grandes dificuldades, mas o ar faltava. A subida consistia em escalar 3 ou 4 arestas, tendo um rapel de aproximadamente 30 metros entre a primeira e a segunda aresta.

Ao terminarmos de subir o primeiro paredão, já não precisávamos das lanternas. Ao olharmos para trás avistamos o outro grupo de espanhóis chegando ao topo da morena. No rapel, fui na frente e aproveitei a pausa para sacar a máquina fotográfica e tirar algumas fotos.

Depois da expectativa frustrada por um cume falso, às 7h20 chegamos ao cume do Diablo Mudo. Diógenes nos felicitou. O visual, mesmo com o tempo não ajudando, é fantástico. Todos os gigantes de Huayhuash estavam à nossa volta: Yerupaja, Yerupaja Chico, Suila, Sarapo, Carnicero, Yantaruri, Jurau, Trapecio, Puscanturpa e outras que não descobri o nome.

Tirei uma "penca" de fotos antes do tempo fechar. Chegou a nevar um pouco. Por conta disso, abreviamos o tempo de permanência no cume e começamos a forte descida pelo outro lado da montanha. A inclinação é indecente, e todos fomos deslizando e carregando pedras e areia. Quando chegamos na laguna, estava imundo do joelho para baixo.

A partir desse ponto, desceríamos pela Quebrada Huacrish, até encontrar com nossos amigos que seguiram a trilha, transpondo o passo Yaucha (4850m). A descida é bastante longa, mas não tinha muita pressa. Como as bolhas voltaram a me incomodar, reduzi o ritmo e fui tirando muitas fotos para me "distrair".

Ás 10h30 paramos para descansar, bem próximos do encontro entre as trilhas. Não demorou muito, e avistamos Luis e Cristina no alto do passo. Em seguida, aparecem a Alê e o Gilmar.

Voltamos a caminhar. O Diógenes resolveu acelerar o ritmo e eu colei nele. Andamos muito forte por uns 40 minutos até chegarmos num mirante onde era possível ver a laguna Jahuacocha, onde ficava nosso acampamento. Mais 15 minutos e chegamos na laguna, sendo cumprimentados por todos.

Mal paramos e já aparecem as primeiras cervejas para comemorar a escalada. Logo depois, chegou o restante do grupo. Comemoramos todos então, pois a caminhada estava no seu final, e tudo havia corrido bem.

A idéia inicial seria permanecermos na laguna Jahuacocha no dia seguinte, para descansar. O Luis propôs que seguíssemos o mais rápido possível para Llamac, pois considerava um desperdício ficar 1 dia parado. Todos concordaram, mas o Diógenes disse que precisava fazer contato com a van. No final, combinamos de sair para Llamac no dia seguinte bem cedo, pernoitando lá, e voltando para Huaraz na manhã do dia 13.

Aproveitei o resto da tarde livre para limpar algumas roupas e descansar. No final da tarde, acompanhei a Alê e a Cristina que tentaram em vão pescar trutas na laguna. O mesmo (triste) destino tiveram Severo, Michel e Diógenes. Mas Willy e Issak salvaram a honra e conseguiram pescar umas 50 trutas. Sim, teríamos peixe para o jantar.

Caminhei em volta da laguna, tirei muitas fotos, bati papo, descansei. A tarde passou rápido, e logo a noite chegou. Nosso jantar foi delicioso e divertido!! Tivemos a sorte de ter o Cirilo como nosso cozinheiro.

Quando voltei para a barraca, me dei conta que estavam acabando nossos dias em Huayhuash. Me sentia feliz, com o bom sentimento de dever cumprido!!

Um comentário:

Daniele disse...

Fábio,
Parabéns pela conquista do temível Diablo Mudo, me sinto orgulhosa de vc.
Muito mais conquistas virão.
É ótimo conhecer o outro lado das coisas como as bolhas dolorosas que trazem difculdades e a alegria da conquista pela realização de ter alcançado o cume do Diablo.
De certa forma é fonte de força e superação. Retrata alegria de viver.
Que orgulho!
Grande beijo