segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Huayhuash - Dia 3, por Fábio Fliess





Dia 6 de agosto!!
Embora estivesse muito cansado pelo esforço do dia anterior, foi uma noite difícil, com um sono “cortado”. Já estava completamente desperto quando o Diogenes nos chamou para tomar o “té madrugador”.
Assim que começo a tomar o chá, o Rafael me diz que iria abandonar o trekking, pois sua noite também foi difícil e ele não estava se sentindo bem!! Eu achava que estava preparado para ouvir essa decisão, mas sempre é muito complicado ver um amigo forçado a abandonar algo que planejou com tanto afinco por quase 1 ano.
Terminamos de arrumar os equipamentos silenciosamente, deixamos tudo fora da barraca e seguimos para o café da manha. O Rafael conversou com o Diogenes sobre sua decisão, e este logo começou a preparar tudo. Mostrou para ele o trajeto a ser feito, conseguiu mais um cavalo e destacou o Severo para acompanhá-lo a cavalo até o povoado de Queropalca. De lá, o Rafael deveria pegar transporte coletivo até chegar a Huaraz.
O Luis, tentava quebrar esse momento triste dando dicas sobre o que o Rafa poderia fazer em Huaraz. Uma das dicas era fazer uma ascensão solo ao Huascaran... :)
Logo depois do café, nos despedimos do Rafael com muita tristeza e preocupação. Para ele, começava outra aventura.
Nesse dia, especialmente, não poderíamos contar com o cavalo de emergência, pois a trilha em alguns trechos era muito estreita e inclinada. O cavalo seguiria com as mulas e os arrieros por uma antiga trilha.
Ainda no acampamento, fizemos o pagamento do pedágio. As 8hs em ponto, começamos a caminhar. Logo após deixar o acampamento, cruzando uma ponte, já havia um outro ponto de pedágio.
As feias nuvens que cobriam toda a laguna Carhuacocha haviam sumido, deixando a mostra os colossos nevados do Yerupaja, Yerupaja Chico e Jirishanca. A trilha vai contornando toda a laguna, com um visual espetacular.
Logo a trilha começava a subir e abandonamos a laguna. Os maciços nevados nos acompanhavam o tempo todo. Cada um mais fantástico que o outro. Eu não parava de tirar fotos!!!
A trilha voltou a ficar plana, e nos aproximávamos das três lagunas. Por volta das 10:30, o Diogenes nos chamou para subir um pequeno elevado para vermos mais de perto uma das lagunas. Ela estava praticamente congelada. Ficamos praticamente meia hora observando as lagunas, as montanhas e as avalanches que vez ou outra insistiam em romper o silêncio.
Voltamos a caminhar. Agora começaríamos a subir o passo Siula (com 4850m). A subida é traiçoeira, com muitos trechos escorregadios e bem íngremes. A Cristina puxava a fila e todos seguíamos no seu ritmo, o que naquelas circunstâncias, não era nada ruim.
Conforme subíamos, o visual das três lagunas ia ficando mais fantástico. As câmeras fotográficas trabalhavam sempre que fazíamos uma pausa. Depois de 1 hora e meia de subida, a trilha fazia uma longa curva para a esquerda e entrava num (enganador) trecho plano. Nós olhávamos para a frente e víamos uma verdadeira parede com encostas repletas de cascalho e areia. Com certeza não seria por ali que iríamos passar. Mas era!!!

Fomos subindo lentamente. Um passo em falso, e certamente sofreríamos um grande tombo. O ar faltava para todos. Numa das pausas, vi uma das cenas mais impressionantes do trekking. A Cristina, que já havia entregue sua mochila para o Michel carregar, estava totalmente sem fôlego e muito cansada. O Diogenes, que deve medir 1,60 no máximo, simplesmente colocou a Cristina em seus ombros e começou a subir aquele trecho inclinado. Sem dúvida, ele se mostrou um guia muito forte.
Finalmente, as 13:30 chegamos ao topo do passo Siula. Descansamos bastante e aproveitamos para almoçar. Tínhamos vencido um dos passos mais temidos da trilha e obviamente, todos estavam muito cansados. Segundo o Diogenes, até uns 5 ou 6 anos atrás, o passo Siula não era usado, mas sim a trilha que estava sendo usada pelas mulas e pelo cavalo.
Como ventava muito e começamos a sentir frio, não demoramos a descer a longa trilha até o acampamento Huayhuash, que ficava a 4300m de altitude. A descida é bastante forte, mas consegui andar bem rápido para acompanhar o Diogenes.
As 16hs, chegamos ao acampamento. Para minha tristeza, vejo que iria começar a sofrer com bolhas durante a caminhada. Uma ou outra já começavam a me incomodar.
Dei uma geral nos equipamentos, e descansei um bocado. Acho que acabei cochilando, pois levantei meio “sonado” com muito barulho vindo do lado de fora. Quando abri a barraca, vi os arrieros e guias batendo uma bolinha num campo improvisado. Fala sério! Jogar futebol a 4300m de altitude, realmente não é para qualquer um. Me recolhi à barraca novamente, antes que eles resolvessem me convocar para um amistoso Peru X Brasil.
Logo a noite caiu sobre o acampamento e fomos chamados para o jantar. Conversamos, comemos, conversamos, rimos, contamos piadas para ajudar a passar o tempo. Do lado de fora, um frio tenebroso. Antes de irmos dormir, Diogenes nos animou um pouco, dizendo “amanhã a trilha será mais tranquila".
A medida que todos retornavam às suas barracas, o silêncio voltava a reinar em Huayhuash...

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