terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Huayhuash - Dia 6, por Fábio Fliess



Dia 9 de agosto!!

Para variar, acordei mais cedo que todos, e quando me chamaram para tomar o chá madrugador, já estava com os equipos arrumados. Depois do café, iniciamos a nossa caminhada, já sabendo que seria bem puxada.

Foi fácil constatar, assim que começamos a andar, que havia nevado bastante à noite. As encostas das montanhas estavam repletas de neve, brilhando sob os raios do sol, e deixando tudo mais bonito. A primeira parte da trilha descia através do vale, e íamos caminhando sem pressa admirando o visual.

Logo encontramos algumas cabanas de criadores de gado. Enquanto o povo brincava com os cães pastores, tirei o excesso de roupa e caprichei no protetor solar. O sol já não estava para brincadeira!!!

Continuamos a bonita descida até um mirante, onde podíamos ver o primeiro objetivo do dia: o povoado de Huayllapa. A partir daí, a trilha se transformava em um forte zigue-zague. Era preciso descer com cuidado, pois havia muita poeira e escorregava muito. Ao chegamos no fundo do vale, a trilha acompanhava um rio caudaloso.

Eu me sentia muito bem, e avançava com rapidez. Porém, comecei a ficar preocupado com a demora do Gilmar e da Alessandra. Parei para descansar ao lado de uma bonita cachoeira, disposto a esperar por eles. Alguns minutos se passaram e a Alê me alcançou dizendo que o Gilmar estava sentindo dores. Pouco depois, e ele apareceu no nosso campo de visão, mancando. Quando se aproximou, comentou que as dores eram no tendão. Essa era uma grande preocupação, pois há cerca de 1 ano e meio antes da viagem, ele já havia operado um dos tendões, rompido durante um jogo de vôlei.

Mas não podíamos parar e seguimos adiante. O Gilmar informou a todos sobre suas condições e nosso guia Diogenes ficou muito preocupado. Fomos avançando devagar, e pouco antes do meio dia chegamos na entrada de Huayllapa, que curiosamente, era o ponto de menor altitude de todo o trekking (3600m).

Após pagarmos mais um pedágio, ficou a dúvida: paramos em Huayllapa ou seguimos morro acima?? O nosso guia estava realmente inquieto, e logo ficamos sabendo que um dos arrieros havia perdido 3 burros no último acampamento e, mais impressionante, estava voltando para buscá-los.

O Gilmar não aceitava a idéia de fazer o restante do trecho a cavalo, mas ao saber que para abandonar o trekking seriam necessários mais dois dias a cavalo, resolveu terminar a trilha à qualquer custo. Depois de muita discussão, no bom sentido, decidimos seguir até o acampamento de Huatiac, que ficava a 4250m de altitude.

Os arrieros com os burros se adiantaram enquanto descíamos até o povoado, para tentar usar o telefone. Todos compraram “tarjetas”, mas o telefone se negou a funcionar. Depois de muito insistir, voltamos para a trilha, frustrados. A ida a Huayllapa acabou se mostrando uma perda de tempo e serviu apenas para nos cansar.

O meu relógio marcava 13h quando começamos a subir até Huatiac. Teríamos um desnível de 650 metros para vencer. A subida era muito forte, e eu entendia claramente porque o Diogenes preferia antecipar o sofrimento.

Durante 2 horas eu subi num ritmo forte e constante. Mas faltando cerca de 1km para o acampamento, comecei a me sentir muito cansado. O meu ritmo diminuiu muito, e esse trecho parecia intransponível. Conseguimos chegar as 15h30 e eu fui direto para a barraca descansar. Digno de nota foi o esforço do Gilmar, que encarou toda a subida, mesmo sentindo dores e mancando.

Depois de descansar e fazer um belo lanche, já me sentia mais disposto, e aproveitei o resto de luz para tirar fotos. Fiquei impressionado em ver como algumas pessoas conseguem viver tão alto e tão longe de tudo.

Não demorou muito e a noite caiu sobre o acampamento. Jantamos felizes por termos vencido mais uma etapa. O esforço que fizemos seria compensado no dia seguinte, muito mais tranquilo.

Estávamos cada vez mais próximos de outro desafio, o Diablo Mudo.

Um comentário:

Daniele disse...

Todo dia uma inovação, é bom saber cada detalhe que vc o descreve com perfeição.
Parabéns para o Gilmar.
E viva a conclusão do dia um tanto dificil.