domingo, 11 de outubro de 2009

Huayhuash - Dia 2, por Fábio Fliess e Rafael Guerra

A turma se preparando para encarar o frio!

Dia 5 de agosto!! Hora de começar a caminhar...
As 6:30 pontualmente estavam nos chamando para tomar o “té madrugador”. Antes do café, tínhamos que colocar os equipos que não seriam usados durante o dia na mochila cargueira, que seguiria com as mulas. Só ficaria na mochila menor o básico.
Enquanto eu arrumava minha mochila, o Rafael comentava que pouco tinha dormido por causa de um desarranjo intestinal que o obrigou a ir várias vezes à latrina enfrentando o frio da madrugada. Ele também havia vomitado bastante e disse que ainda não se sentia aclimatado. Era a primeira vez que ele estava nessa altitude (Cuartelhuain estava a 4100m), e o seu corpo estava reagindo e forçando a aclimatação.

Eu já não estava normal quando deixamos Huaraz. Na época eu imaginei que o motivo do meu "desarranjo" intestinal seria a ansiedade que estava experimentando e que tudo ficaria bem tão logo a jornada começasse.
A noite, já no acampamento, pouco depois de me acomodar no saco de dormir, comecei a sentir os primeiros enjoos enquanto resistia a possibilidade de fazer uma visita à latrina. Não resisti. Vesti as várias camadas de roupa para me proteger do frio e fui ao "banheiro". Eu estava com diarréia e, durante a madrugada, fiz mais duas visitas à latrina. Na última, já acostumado ao frio e cansado de trocar de roupa e entrar e sair do saco de dormir toda hora, fiquei um bom tempo sozinho, observando o acampamento a distância. De volta ao saco de dormir, cansado demais para sair mais uma vez, passei a cabeça pela entrada da barraca e vomitei ali mesmo.


Cada pessoa se aclimata em um tempo diferente. No meu caso, o caminhada à Laguna Churup, no primeiro dia, foi suficiente para colocar tudo nos eixos.
Outro complicador era o frio. Certamente, a sensação térmica no acampamento era de uns 5 graus. Lutando contra o frio e a ansiedade, as 7hs eu já estava com minhas mochilas arrumadas e fora da barraca. O restante da turma chegou logo depois.
Enquanto tomávamos café, os arrieros já pegavam nossas mochilas e começavam a preparar as mulas para a caminhada. Tão logo deixássemos o acampamento, eles desmontavam tudo e nos seguiam.
Segundo Diogenes, o ideal era que as 7:30 nós já estivéssemos caminhando, pois o dia seria muito duro, com dois “pasos” para atravessar. Enquanto todos se preparavam, sentia os dedos dos meus pés doendo de tanto frio.
Infelizmente, acabamos nos atrasando um pouco, e só deixamos o acampamento as 8hs, em direção ao passo de Cacananpunta (4700m de altitude). A subida era bem longa e durante cerca de 1 hora caminhamos na sombra, com o frio ainda nos castigando.
Por volta das 9:15, fizemos uma parada. Aproveitei para tirar um dos casacos, pois o sol já aparecia. A preocupação do Diogenes era com o Rafael, que vinha subindo lento, acompanhado apenas pelo Michel, o guia auxiliar.

Mal dormi aquela noite. Os efeitos da altitude foram muito cruéis comigo. De manhã, a primeira coisa que fiz após o chá foi outra visita à latrina.
Esvaziamos as barracas, fizemos o desjejum e retornei para a latrina. Quando saí, todos já estavam longe. Cerca de 200m. Tive que acelerar para tentar alcançá-los e acho que forcei demais logo no início. O meu fôlego acabou rapidamente e eu comecei a caminhar com muita lentidão.

Enquanto esperávamos o Rafael, curtirmos um pouco o sol de Huayhuash. Do ponto onde estávamos, podíamos ver a movimentação dos arrieros no acampamento, quase prontos para começar a subir também.

Gilmar, eu, Alê, Luiz, Cristina, María e Diogenes

Assim que o Rafael chegou, comentou que estava sem fôlego. Assim que ele se recuperou, voltamos a caminhar. Depois de mais um trecho, quando os arrieros e as mulas já haviam nos ultrapassado, Diogenes sugeriu que o Rafael usasse o cavalo, pois ainda havia uma forte subida e havia a preocupação com o horário de chegada no acampamento. Diante desse último argumento, o Rafael aceitou usar o cavalo.

Para não estragar os planos da equipe eu aceitei continuar a cavalo, o que aumentou a adrenalina porque o bicho foi subindo o passo pulando de uma pedra para outra, sempre se equilibrando à beira do abismo.

Por volta das 10:50 finalmente chegamos ao primeiro passo. Fizemos uma rápida pausa para descansar e tirar algumas fotos, e logo começamos a descer. Eu estava me sentindo bem, embora minhas pernas doessem um bocado por conta das fortes câimbras que tive na laguna Churup.
Seguimos por um trecho mais ou menos plano, por cerca de 1 hora e meia. Próximo de um acampamento intermediário, fizemos uma pausa para o almoço.

Após descansar no alto do passo começamos a descer e me senti muito bem. Andei em um ritmo forte durante mais de 2 horas e fiquei feliz porque entendi que estava tendo progresso na aclimatação.

Meia hora depois, voltamos a caminhar sabendo que logo começaria mais uma subida. A esperança era que não fosse tão dura como a primeira. O lado bom é que a paisagem à nossa volta compensava todo o esforço!!
Chegamos num ponto onde havia a necessidade de fazer o pagamento de mais um “pedágio”. Logo depois desse ponto, a trilha voltava a subir, muito forte. Fui subindo devagar, me sentindo “pesado” e cansado, e para me motivar, ia mentalizando pequenos objetivos, tais como: “vou chegar naquela pedra”, “agora até aquele trecho plano”, etc.
Em determinado momento olhei para trás, e vi Gilmar e Alessandra começando a subir e o Rafael um pouco mais atrás, ainda bem lento. Continuei subindo, e logo me juntei ao Luis, Cristina, Maria e Alberto. Assim que parei para descansar, vomitei. Fiquei muito preocupado, mas tentei tirar os medos da cabeça e voltei a caminhar bem devagar.

O visual fantástico da trilha...

Para minha surpresa, aos poucos fui me sentindo cada vez melhor, e passei a caminhar forte. Logo o Gilmar, e depois a Alessandra, se juntaram a mim, e às 16hs nós chegamos no passo de Punta Carhuac (4650m). Esperamos o restante da turma chegar e ficamos sabendo que o Rafael voltou a usar o cavalo na subida, pois estava se sentindo muito mal.

Após almoçarmos, voltamos a caminhar e mesmo no plano senti dificuldade. Quando começamos a subir o segundo passo pedi ao Michel para ir no cavalo que passei a chamar de Imperador. Continuamos andando e ele correu na frente para buscar o cavalo. Não fiquei muito tempo com o Imperador porque a Cristina também não estava bem e logo o cedi à ela.

Após uma rápida pausa para descanso, começamos mais uma longa descida até o acampamento. Segundo o Diogenes, já estávamos muito atrasados. Durante todo o trajeto da descida, procurávamos incentivar o Rafael, que só pensava em descansar. Ele perdeu até a vontade de fotografar...
As 17:30 chegamos no mirante da laguna Carhuacocha. A tonalidade da água aos pés dos nevados realmente era uma visão fantástica e animadora. Não nos demoramos, pois começava a escurecer.
Eu estava muito cansado e não via a hora de chegar ao acampamento. Para nossa decepção, ele era o mais distante da laguna e só cheguei lá as 18hs. O Rafael chegou uns 15 minutos depois e foi direto dormir.

Caminhei com Fábio, Gilmar e Alessandra da quebrada Waya até o mirante da Carhuacocha. A partir dali fui sozinho, uns 15 minutos atrás do grupo.
Cheguei ao acampamento muito debilitado, com o tipo de sensação que se tem quando se está com febre.

Como já era tarde, logo nos chamaram para jantar, mas o Rafa disse que não estava sentindo fome. Foi a Alessandra que o forçou a tomar um pouco de sopa e comer algo. Durante o jantar eu conversei com o Diogenes sobre a situação do nosso amigo. Ele comentou que era totalmente viável fazer todo o trekking a cavalo e que também que existia uma “rota de fuga” do trekking, passando pelo povoado de Queropalca, e de lá retornar para Huaraz.
Assim que voltei para a barraca, comentei sobre essas possibilidades com o Rafael. Ele tentaria descansar e ver como acordaria na manhã seguinte. Sem dúvida, a decisão final teria que ser dele.

Não havia apetite nem sono mesmo assim comi um pouco de sopa forçado pela Alessandra e tentei dormir.

Diante dessa situação preocupante e inesperada, o grupo foi descansar. Com certeza foi um dia bastante duro. Caminhamos uns 20 quilômetros, atravessando dois passos bem complicados. Logo em nosso primeiro dia de caminhada, passamos por um difícil teste.
O dia seguinte seria um dos mais bonitos de toda a trilha, e essa era a nossa motivação quando fomos dormir.

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