Um rio de conhecimentos
Projeto Cinema no Rio promove
intercâmbio cultural ao levar a sétima arte às
populações ribeirinhas do São Francisco
Telão inflado, projetor
ligado, cadeiras a postos. Tudo pronto para mais
uma sessão do Projeto Cinema no Rio São Francisco,
que desde 2004 percorre o rio da integração
nacional com o objetivo de democratizar o acesso à
cultura exibindo filmes para as comunidades
ribeirinhas.
Esse ano o projeto
completa sete anos de difusão da sétima arte. Para
comemorar a data, a equipe parte para mais uma
expedição em abril. Dessa vez, o Cinema no Rio vai
percorrer 13 cidades no estado de Minas Gerais.
O projeto comemora
também os 510 anos do Velho Chico, esse caudaloso
rio habitado por indígenas e anteriormente
conhecido como opará, algo como “rio-mar”.
Ele foi descoberto por Américo Vespúcio no dia 4
de outubro de 1501, dia de São Francisco. Desde
então, fez parte de importantes momentos
históricos do país.
Assim, o Cinema no Rio
realiza uma série de atividades com o objetivo de
promover o intercâmbio com as comunidades que
vivem as margens do rio São Francisco. A principal
é a exibição gratuita de filmes. Crianças,
adultos, idosos e até pessoas que nunca viram um
filme na vida enchem as praças das cidades. Então
é luz, câmera, ação. E as emblemáticas palavras do
mundo cinematográfico ganham um novo significado.
Parte desse novo
sentido é criado ali mesmo, já que a equipe do
projeto é responsável pela produção e veiculação
de um documentário local sobre a cidade e seus
habitantes. “Nos outros anos a população era
mostrada nos filmes. Dessa vez, ela também vai
fazer parte da produção desse curta-metragem”,
adianta o diretor da CineAr Produções e
responsável pela execução do projeto, Inácio
Neves.
Depois dos
documentários, é hora dos filmes, todos nacionais.
Esse ano, o projeto conta com oito curtas e seis
longas-metragens, entre eles os recentes O
Palhaço, com direção de Selton Mello, e Hotxuá,
com direção de Letícia Sabatella e Gringo Cardia.
O premiado Girimunho, com direção de
Clarissa Campolina e Helvécio Marins Jr, também
faz parte da lista. Depois de ser exibido em
festivais nacionais e internacionais, o filme
finalmente será mostrado à cidade de São Romão,
aonde foi gravado. “O Girimunho nasceu no projeto
Cinema no Rio e agora vai ser visto pelos
habitantes que me ajudaram a produzi-lo. É o local
onde eu mais tenho vontade de passar o filme”,
conta Helvécio Marins Jr, diretor do longa.
As comunidades também
ganham conhecimento com a oficina de fotografia Imagem
em movimento, direcionada a crianças de 12 a
16 anos. Os oficineiros vão conversar sobre o
assunto, ensinar as regras básicas e deixar eles
saírem pela cidade fotografando tudo que for
interessante. “É o olhar deles sobre o espaço em
que vivem”, explica Inácio. Cada participante
também será fotografado. O material será então
editado e exibido na telona antes dos filmes.
Todo esse sucesso é
fruto do entendimento do cinema como uma forma de
manifestação cultural. “E nesse projeto ainda é
mais do que isso, pois é também uma forma de
conhecer as outras manifestações culturais
regionais. A proposta não é só proporcionar que
eles tenham contato com o cinema, mas que eles
tenham contato com suas próprias manifestações”,
afirma Inácio.
Ele conta que o grupo
de Batuque da cidade de Ponto Chique renasceu após
a passagem do Cinema no Rio, na edição de 2006.
“Eles diziam que a cidade não gostava deles.
Insistimos e eles acabaram se apresentando. Foi um
sucesso. Pela primeira vez vimos as pessoas da
comunidade participando”, lembra Inácio. O grupo
criou asas e chegou a fazer apresentações até em
Brasília.
Desde que foi criado,
o projeto passou por diversas cidades de Minas
Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, os
cinco estados que recebem as águas do Velho
Chico. Com as sessões gratuitas dos filmes o
Cinema no Rio já levou cultura para mais de 200
mil pessoas.
Para saber mais: http://www.confluencia.info/cinemanorio/.
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