domingo, 1 de janeiro de 2012

Torres del Paine, por Rafael Guerra

Pessoal, segue o relato do nosso trekking (ou tentativa de trekking) em TDP em dezembro. Como estou escrevendo em um computador público nao houve tempo para a inclusao de fotos e vídeos. Isso vai ficar pra depois assim como a correçao da acentuaçao...

Partimos de Puerto Natales para o Parque Torres del Paine no dia 28 de dezembro e chegamos na entrada do parque, Guardaria Laguna Amarga às 16h25, após quase 2 horas de ônibus. Assim que chegamos fomos avisados por um guarda que o circuito estav fechado devido a um incêndio e que poderíamos seguir até o refúgio Grey. Resolvemos iniciar assim mesmo o trekking, acreditando que em 2 ou 3 dias a passagem estaria liberada e que o pior que poderia acontecer seria termos que voltar tudo caso o incêndio continuasse.


Começamos a caminhada por volta das 17 horas e chegamos no camping Serón mais ou menos às 23 horas, junto com o pôr do Sol. O esforço desse dia nos deixou bem cansados e com a certeza de que nao deveríamos ter começado a caminhar tao tarde.

No dia 29 acordamos tarde e fizemos questao de fazermos tudo bem devagar, sem pressa. Tomamos um café da manha reforçado e saímos às 13 horas rumo ao refúgio Dickson. Após 2 horas e meia de caminhada, depois do lago Paine; onde encaramos um vento muito forte; encontramos um pequeno bosque e paramos ali por 50 minutos para o almoço. Umas 3 horas depois, paramos novamente para tomarmos café. Foi muito legal e diferente essa dinâmica de parar pouco e quando parar, em vez de lanchar barrinhas de cereais, fazer um almoço leve.

Chegamos no refúgio Dickson umas 21 horas sob um vento forte e fomos informados que o acampamento Los Perros estava fechado mas que poderíamos fazer um bate-e-volta sem problemas. Como passamos a ter muito tempo disponível, que nao poderíamos fazer o circuito completo, resolvemos tirar o dia seguinte de folga e deixar o bate-e-volta em Los Perros para o dia 31. Nós passaríamos o reveillon no Refúgio Dickson e voltaríamos para Serón no primeiro dia de 2012.

Decidimos montar as barracas bem próximas uma das outras de modo que elas se protegessem mutuamente contra o vento. A minha barraca foi montada por último com a ajuda do Fábio e da Letícia. Quando terminamos, deu tempo apenas de eu colocar a minha mochila dentro da barraca e uma rajada de vento mais forte simplesmente a achatou contra o chao, quebrando a estrutura de alumínio e rasgando o cobre-teto!
Acabei conseguindo acomodaçao no refúgio por $ 10.000 Pesos. Havia também barracas para alugar por $ 7.000 Pesos mas achei que a diferença de preço nao fazia isso valer a pena. Acabou sendo uma noite agradável... Fábio, Letícia Gilmar e Alessandra foram para o refúgio e jantamos uns sanduíches de carne bem legais com cerveja Austral. Eu bebi umas 4 latinhas de cerveja... gostei muito! Depois que a turma voltou para as barracas eu ainda fiquei bebendo no refùgio até 1 hora da manha na companhia de um grupo de trekkers chilenos.

Quando a gente olhava para as montanhas na direçao das Torres, víamos as núvens coloridas pelas chamas que consumiam a vegetaçao do parque. Um espetáculo muito triste.


Na manha seguinte, dia 30, acordei disposto a nao fazer nada além de curtir a folga da caminhada. Afinal, havíamos andado mais de 36km e as mochilas estavam bem pesadas!

Quando saí do refúgio para tomar o café da manha com os amigos que estavam acampados, fui abordado por um guarda que me disse que o parque estava fechado; que estava sendo evacuado e que deveríamos partir também. Segundo ele, os acampamentos Los Perros e Serón estavam fechados e o Dickson seria fechado em breve também.
Nesse momento a minha maior preocupaçao era arrumar acomodaçao para dormir quando chegássemos em Serón, que eu nao tinha barraca e também náo poderia contar com a possibilidade de alugar uma barraca do acampamento! As barracas que os meus amigos estavam levando eram para uma pessoa, com conforto. Enfiar 3 pessoas numa barraca dessas seria um problema mas parecia a única opçao.
Comida também era um problema, que nos preparamos para comprar os alimentos nos refúgios e campings por onde passaríamos. Conosco, levávamos apenas uma quantidade pequena para emergências.

Arrumamos tudo e saímos de Dickson às 13h15. Naquela altura, com o corpo mais acostumado ao exercício, a caminhada parecia mais fácil para todos. A ao ser na parte da trilha próxima ao mirador do Lago Paine. O vento, que estava forte no dia anterior, nesse dia parecia estar com o dobro da força. A Alessandra estava caminhando bem a frente do grupo, depois seguíamos eu e o Gilmar e bem mais atrás, o Fábio e a Letícia. O vento era tao forte que eu conseguia seguir muito devagar, de costas para uma pirambeira de 150 metros que terminava no lago e forçando os bastoes de caminhada contra um paredao de rocha que se estendia por boa parte do lado direito da trilha. Em um certo momento resolvi arriscar uma caminhada mais rápida de frente para a trilha e o vento me empurrou contra a rocha me fazendo subir uns 2 metros no paredao. Quase pirei tentando descer dali antes que o vento desse uma trégua e eu desabasse. Parecia um skatista em um halfpipe. Depois o Fábio me contou que passou pela mesma situaçao naquele ponto...
Continuei caminhando com muita dificuldade. O barulho do vento era muito alto e a força dele fazia a mochila zunir ao mesmo tempo que eu era praticamente açoitado pelas fivelas da mochila. Posso dizer que "entrei na porrada"!
Em um dado momento passei pelo Gilmar caído no chao. Ele havia se jogado atrás de um arbusto grande para tentar nao ser lançado montanha abaixo. Seguimos juntos, caminhando um pouco mais e finalmente conseguimos sair daquele inferno. Esperamos uns 15 minutos pelo Fábio e pela Letícia. Preocupados, resolvemos voltar para socorrê-los caso fosse necessário. Nao conseguimos! Em um determinado ponto de uma curva parecia que havia uma parede de vento que nos impedia de seguir.
Ficamos aliviados quando pouco depois os dois apareceram e saíram do vento.

Chegamos ao camping Serón às 20h45 e era possível avistar a fumaça do incêndio ao longe.

Achei estranho haver gente dentro da administraçao do camping, que ele deveria estar fechado. Quando entrei , encontrei uma família de 12 montanhistas chilenos com os quais eu havia feito amizade no dia anterior. Eles estavam fazendo o trekking sem barraca, que o parque quando nao oferece refúgio, dispoem de barracas para alugar. Com o camping fechado, eles ficaram "sem teto", na mesma situaçao que eu, e forçaram uma das portas em busca de abrigo. Sabendo da minha situaçao, eles pegaram uma das barracas do parque e me emprestaram para que eu passasse aquela noite.
No dia seguinte eu devolvi a barraca arrumada e limpa. Os chilenos haviam dado uma boa faxina no local e arrumado tudo.
Partimos todos juntos e umas 13h estávamos na Laguna Amarga espeando pelo ônibus que nos levaria à Puerto Natales.

Apesar de nao termos conseguido fazer o circuito completo mais o "W", como havíamos planejado, ficamos bem e posso dizer que valeu a pena. A única e grande tristeza ficou por conta de ver tamanho patrimônio natural sendo queimado pela irresponsabilidade de um idiota que resolveu queimar o seu papel higiênico para nao ter que carregá-lo!

O que queremos agora é voltar aqui depois de algum tempo e encontrar tudo recuperado.

Atualizaçoes:
03/Jan - 09h56 - Hoje a CONAF (o "Ibama" do Chile) fará o sobrevoo das áreas afetadas pelo incêndio e decidirá sobre a reabertura parcial do parque.
Já estamos preparando o nosso retorno para tentarmos fazer ao menos uma parte do W nos próximos dias.
Enquanto isso, hoje, daremos uma pedalada até o sítio arqueológico Cueva del Milodon. Distante cerca de 30km de Puerto Natales.

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