terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Huayhuash - Dias 9 e 10, por Fábio Fliess




Dia 12 de agosto!!

Último dia de trilha. Acordei bem disposto, e com a velocidade costumeira, já deixava tudo arrumado. Sem muita pressa, fui tomar o café da manhã, que foi divertido como sempre!!!

A "pernada" desse dia seria um pouco mais tranquila, e com isso não nos preocupamos muito com a hora de sair do acampamento. O tempo, que estava feio desde as primeiras horas da manhã, foi melhorando rapidamente, o que me proporcionou muitas fotos.

Por volta das 8h30, começamos a caminhar. Nos despedimos do acampamento Jahuacocha e seguimos em direção ao povoado de Llamac. Em seu primeiro trecho, a trilha era muito tranquila, sem muitas subidas e descidas. Sempre olhava para trás, para observar os nevados de um ângulo diferente. Tirei um número enorme de fotos nesse dia.

Com aproximadamente 1 hora de caminhada, as mulas e os arrieros nos ultrapassaram. É impressionante como correm!! Quem vê pela primeira vez, acha até que é fácil...

Logo depois, surgiu uma placa indicando o caminho correto para Llamac. E a partir desse ponto, a trilha engrossou. Subidas longas e fortes, alternando trechos abertos com outros cobertos pela vegetação.

As 11h15, chegamos em um bonito mirante onde pudemos contemplar mais uma vez o Diablo Mudo. Nesse ponto, as subidas acabavam e eu pude voltar a andar mais forte. Com mais 30 minutos de caminhada, chegamos ao último passo da trilha, Pampa Llamac (4300m).

Fizemos nosso almoço, fomos presenteados pelo bonito vôo de um condor e lançamos nossos últimos olhares para os nevados de Huayhuash. Desse ponto em diante, teríamos uma forte descida até Llamac, que estava a 3500m de altitude.

A descida era forte e o sol resolveu aparecer de vez. Minhas bolhas voltaram a doer, pois tinha que pisar em pedras soltas. Por volta das 13h45, vimos pela primeira vez o povoado. Isso deu um ânimo grande para todos e com mais 45 minutos, entramos em Llamac.

A idéia era acampar em um campo de futebol, quase na saída da cidade. No caminho, procuramos um telefone "rural", que mais uma vez não funcionou. Bem próximo do camping, encontrei um telefone "normal", que funcionava com moedas, e consegui falar com os familiares no Brasil.

Com a saudade minimizada, tratamos de descansar um pouco no acampamento. Logo depois de chegarmos caiu uma bela chuva. Aproveitei para separar e limpar alguns equipos e roupas.

Quando a chuva diminuiu, eu e Gilmar fomos procurar um bar com cerveja. Achamos um pertinho do acampamento, onde experimentamos uma deliciosa Cusqueña preta. Logo depois se juntaram a nós o restante da trupe. Ficamos um bom tempo bebendo cerveja e contando "causos" e piadas.

Por volta das 17hs, voltamos ao acampamento para ver o ritual da Pacha Manca. Primeiro, cavaram um buraco onde fizeram uma "lareira" com pedras, rechearam com bastante lenha e atearam fogo. Assim que a lenha virou carvão e as pedras ficaram bem quentes, eles derrubaram toda a estrutura, criando uma base de pedras quentes. Sobre essa base, colocaram diversos tipos de batata e pedaços de carne de carneiro, preparados anteriormente com um molho de hortelã, e embrulhados em papel laminado. Assim que terminam de dispor a comida, eles colocam mais pedras quentes e cobriram tudo com papel e terra. A carne e as batatas ficaram assando por 45 minutos.

Enquanto aguardávamos o banquete, fomos todos ao "centro" da cidade comprar bebidas, incluindo whisky, cerveja e refrigerantes.

Dessa vez, o jantar foi diferente. Era hora de comemorar a expedição bem sucedida!! Sem ter que caminhar no dia seguinte, todos puderam saborear o delicioso jantar preparado pelo Cirilo e beber à vontade. Lá pelas tantas, com todos se espremendo na barraca refeitório, começaram os discursos. Cirilo falou pelos locais e Luis pelos brasileiros e espanhóis. Agradecemos a todos e também, como de praxe, distribuímos uma pequena "propina" (gorjeta).

A festa acabou por volta das 22hs, quando todos foram para suas barracas. Nem parecia, mas era nossa última noite em Huayhuash.

Dia 13 de agosto!

Última alvorada. O acampamento em clima de "final de festa". Estava tudo parado, em clima de despedida. Nosso último café da manhã foi bastante rápido, pois a van que viria nos buscar estava para chegar. Mas acabou chegando apenas às 9h.

Rapidamente os equipamentos foram colocados na van, que estava voltando cheia para Huaraz, pois Cirilo, Diogenes e Michel voltariam conosco. Nos despedimos dos arrieros, já que todos eram moradores de Llamac.

Começava então o lento retorno até a "cidade grande". Depois de praticamente 10 dias curtindo o silêncio, me estressei rapidamente com o som que vinha do CD player da van. Minha percepção é de que o CD inteiro tinha uma só música, tamanha a semelhança entre as faixas.

Fizemos uma rápida parada em Chiquián, onde compramos água e comemos alguma coisa. O motorista da van apareceu com outro CD. Para mim, nada mudou!!!!

De volta à estrada, fomos sacolejando morro acima até encontrar com a rodovia. A partir daí, a viagem foi bem mais tranquila. E logo depois do almoço, nos deixavam no hotel. Finalmente chegamos!!

Foram 10 dias isolados do mundo. Saí de Huayhuash com a certeza de que havia visto algumas das paisagens mais incríveis da minha vida. Estava feliz por ter cumprido todos os objetivos propostos e muito feliz por estar voltando para casa cheio de histórias para contar. Afinal, é isso que carregamos dessas aventuras: histórias para nunca mais esquecer!!!

2 comentários:

Thica disse...

Massa demais, Fábio!

Professora Carla Nogueira disse...

Oi meninos! Já tinha lido todos esses 10 maravilhosos dias em Huayhuash e hoje voltei a reler... Que delícia! Daqui a 47 dias espero fazer o mesmo roteiro. Obrigada mais uma vez por compartilhar o relato...
Bjs
Carla